Sobre Edição de Vídeo e Jornalismo

Durante esta semana teve início o Julgamento do Mensalão.

A leitura do relatório de acusação, feito pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, durou quatro horas e 50 minutos.

Os noticiários não exibiram mais do que 5 minutos. Os jornais reproduziram algumas frases.

Seria possível que o noticiário exibisse as quatro horas e 50 minutos de acusação?

E os jornais, é possível que reproduzissem as centenas de páginas do relatório?

Não.

Como, então, levar a notícia ao cidadão?

Condensando a informação, reduzindo-a a seus aspectos principais, mais relevantes ou interessantes ou, em muitos casos, cômicos ou dramáticos.

Isso se chama Edição abreviada e ocorre quando o texto foi parcialmente suprimido, ou resumido em trechos e passagens supostamente não essenciais à sua compreensão.

Ou seja, levar ao leitor apenas o essencial à sua compreensão.

Logo, sempre ao utilizar a edição o editor deve preocupar-se em fazer com que o leitor compreenda a informação.

Utilizando-se da edição, pode-se, ao colar trechos díspares, criar um sentido diferente do enunciado pelo autor.

Um veículo de comunicação que faz isso demonstra-se preso às próprias ideias e conceitos e, ao tentar impor sua visão de mundo aos leitores, acaba por desconectar-se da realidade destes.

Utilizando-se da edição pode-se omitir o que seria de maior interesse para o leitor.

Um veículo de comunicação que faz isso é ou incompetente ou desonesto.

Utilizando a edição pode-se peneirar um longo discurso para achar preciosidades que podem ser ou não apreciadas pelos leitores.

É no eco das pessoas que o jornalismo encontra ressonância. Quando acerta é aplaudido, quando erra é ignorado ou vaiado.

O caso do vídeo da Vereadora é exemplar.

A Sessão da Câmara durou aproximadamente uma hora e meia. O discurso da Vereadora levou aproximadamente 5 minutos. O vídeo editado ficou em um minuto e meio.

Esse um minuto e meio é um parágrafo que foi dito pela Vereadora.

Um minuto e meio em que ela expõe seus pensamentos sobre os temas Estudo, Educação e Cultura.

E durante os outros 3 minutos e meio?

No início do vídeo bruto (que não foi editado), ela fala sobre a dor de garganta, sobre a campanha, sobre a mãe que não teve estudo, fala que não é analfabeta, e aí diz que está falando tudo isso PORQUÊ: E aí que começa o trecho que foi ao ar. É o trecho em que ela explica o motivo de estar dizendo aquelas coisas.

Poupamos os leitores de uma longa e desnecessária introdução, com direito a câmera se ajustando no tripé e acessos de tosse. E, como se pode perceber, durante este início não há nenhuma informação que transformaria o sentido do vídeo caso tivesse “entrado” na edição.

O principal ponto do vídeo e de todo o discurso dela é ter dito que estudo não lhe faz falta e nem “faz sua cabeça”, indo em oposição frontal a uma ideia estabelecida em nossa sociedade de que a Educação e a Cultura, o Estudo, enfim, ajudam a criar melhores cidadãos e melhores sociedades. Nada do que foi dito anteriormente atenuaria estas palavras.

Depois que termina a edição, com “Não sou mais e nem menos do que ninguém”, a Vereadora fala sobre o projeto para conceder espaço a todos os Vereadores durante as homenagens prestadas pela Câmara. Esse trecho, que é até um pouco engraçado, também não traz nenhuma novidade em relação ao trecho presente na edição.

Logo, depois de toda esta explanação, podemos afirmar que o vídeo foi, sim, editado. E mais, podemos afirmar que todo jornal, site e canal de televisão edita todas as informações que repassa a seus leitores.

A diferença entre eles é o que cada um mostra e, principalmente, o que cada um deixa de mostrar.