terça-feira, 12 de junho de 2012

Entre os deslizes da liberdade e o acorrentamento da confiança



           
            Em uma dessas minhas visitas pelo meu Eu, conversando com o Eu mais Profundo, indaguei-me a respeito de certas atividades que insistiam em querer queimar fortemente o meu peito. Como que se tudo aquilo que ali se mexesse e insistisse em se manter inquieto tivesse algo a me dizer. E foi tentando ouvir o que essa sensação, não mais tão estranha tinha a me dizer, que venho através deste interrogar o meu Eu mais Profundo a cerca de algumas coisas que os olhos não conseguem ver, e muitas vezes nem sentir. Inicio tal indagação com a seguinte pergunta:
            - Caro Eu Profundo! Conhecedor de todos os mistérios e segredos que inundam esse poço de inquietação que habitam esse meu ser e que na margem desse turbilhão de ideias insiste a te interrogar sobre algumas coisas que aqui não se cansam de me perturbar. Venho a te cumprimentar por tal disponibilidade de tempo e carinho por aqui vós poder estar, pois sei de tal dificuldade que é para muitos conseguir encontrar o seu Eu mais Profundo e calmo para conversar, pois o mesmo muitas vezes não se cansa de sair por ai viajar e querer conhecer coisas que não lhe pertencem. Encerrado os cumprimentos venho a te perguntar sobre a seguinte pergunta que tanto assombra o meu ser. Fala-me a respeito da liberdade e da confiança.
            - Olá querido Eu! É sempre bom rever um amigo tão próximo, pois não é sempre que podemos ter a honra de falar com ele. Pois muitos dos seres que hoje vivem, tem se ocupado mais em querer Ter do que querer descobrir coisas a respeito do seu Eu. Fico feliz por tal consideração, e respondendo a tal pergunta. Falarei então sobre um pouco disse tudo que vem a te atormentar.
            -Estimado amigo! A liberdade e a confiança podem ser comparadas a dois artesãos que modelam cuidadosamente um vaso no barro. No desdobrar dessa construção é necessário todo o cuidado e técnica para que o vaso tome a devida forma desejada. Para que isso aconteça o vaso é modelado de acordo com as necessidades de ambos os artesãos. O desdobramento dessa arte, eu poderia chamar de liberdade, pois é fazendo o bom uso da sua liberdade que tal objeto se constrói. E conforme os artesãos vão aprendendo a usar a tal liberdade, tal objeto vai criando forma. Uma vez pronto e acabado esse objeto, o vaso, ele passa então a ser chamado de confiança, pois nele você consegue perceber tudo o que foi criado no desdobramento dessa relação. Todo aquele processo de cuidado ao saber fazer o bom uso da liberdade, tinha apenas como único objetivo o de criar tal objeto. Uma vez criado tal objeto, o vaso, agora chamado de confiança, temos então o fruto dessa relação que se constitui no decorrer de um determinado tempo.
            Após ouvir isso, o Eu pergunta:
            - Perfeito Eu Profundo. Muito tenho ouvido a falar sobre tal temática, mas pouco conseguia entender. Falando assim tão suavemente tu me fizeste compreender tal coisa de uma maneira que antes eu não conseguia perceber. Nesse sentido, gostaria que me falasse mais sobre a confiança, sobre esse vaso. Pois uma vez ele criado corre o risco de sofrer as modificações da ação humana.
            -Claro Eu! Entenda a confiança como algo que nunca se cessa. Como um vaso vazio e que precisa ser preenchido. Colocamos dentro desses vasos as mais belas flores apanhadas no jardim da vida, assim como aqueles mais puros sentimentos que confiamos à outra pessoa. Mas de nada adianta tal ato se não existir tal reciprocidade. Pois, o que mais temos observado nesse mundo, são algumas pessoas ao fazer o mau uso da sua liberdade e por possuir desejos efêmeros, se deixam levar pela falsa beleza do outro. E como resultado de tal ação, do mau uso da sua liberdade, esse vaso que antes estava seguro nas mãos dessas duas pessoas e preenchido com as mais belas flores por esses dois seres, desliza de suas mãos. E nesse tal deslize ele cai ao chão e se quebra. Tal queda às vezes provoca a ruptura em mil pedaços, como em outras em apenas em poucas partes.
             E o Eu responde:
            Correto! E ao derrubar esse vaso tal pessoa age de duas diferentes maneiras: Ou ela ignora e não da valor ao vaso que se quebraste, deixando ele aos chãos. Ou ela vai aos prantos e diante de suas lagrimas tenta conserta-lo.
            - Perfeito! Eu Profundo, e é com tal acontecimento que podemos sentir a sutil diferença existente entre os seres humanos. Pois aquele que não se preocupa e segue o seu caminho é aquele que brevemente estará construindo outro vaso com outra pessoa e certamente agirá com ela da mesma maneira se tal fato voltar a acontecer. E aquele que tenta colar, juntar os cacos desse vaso, fingindo como se nada tivesse acontecido é como aquela pessoa que no auge do seu arrependimento tenta consertar algo que foi feito com o mau uso da sua liberdade. Mas o que esse segundo ser não sabe, é que tal vaso uma vez colado nunca mais será o mesmo, pois cada vez que alguém olha para tal marca no vaso, relembra de tal acontecimento que o deixou assim. Como alguém que relembra de tal coisa que lhe fizeram e nunca mais conseguiu voltar a ser o mesmo. Portanto, amigo Eu Profundo, concluo dizendo: Que a confiança uma vez perdida, se torna como esse vaso quebrado, o qual nunca mais terá a sua forma e beleza como era naturalmente.

Cosmo Rafael Gonzatto
Soledade 10 de junho de 2012
14 h: 02 min

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