Em uma dessas minhas visitas pelo
meu Eu, conversando com o Eu mais Profundo, indaguei-me a respeito de certas
atividades que insistiam em querer queimar fortemente o meu peito. Como que se tudo
aquilo que ali se mexesse e insistisse em se manter inquieto tivesse algo a me
dizer. E foi tentando ouvir o que essa sensação, não mais tão estranha tinha a
me dizer, que venho através deste interrogar o meu Eu mais Profundo a cerca de
algumas coisas que os olhos não conseguem ver, e muitas vezes nem sentir. Inicio
tal indagação com a seguinte pergunta:
- Caro Eu Profundo! Conhecedor de
todos os mistérios e segredos que inundam esse poço de inquietação que habitam
esse meu ser e que na margem desse turbilhão de ideias insiste a te interrogar
sobre algumas coisas que aqui não se cansam de me perturbar. Venho a te
cumprimentar por tal disponibilidade de tempo e carinho por aqui vós poder
estar, pois sei de tal dificuldade que é para muitos conseguir encontrar o seu Eu
mais Profundo e calmo para conversar, pois o mesmo muitas vezes não se cansa de
sair por ai viajar e querer conhecer coisas que não lhe pertencem. Encerrado os
cumprimentos venho a te perguntar sobre a seguinte pergunta que tanto assombra
o meu ser. Fala-me a respeito da liberdade e da confiança.
- Olá querido Eu! É sempre bom rever
um amigo tão próximo, pois não é sempre que podemos ter a honra de falar com
ele. Pois muitos dos seres que hoje vivem, tem se ocupado mais em querer Ter do que querer descobrir coisas a
respeito do seu Eu. Fico feliz por
tal consideração, e respondendo a tal pergunta. Falarei então sobre um pouco
disse tudo que vem a te atormentar.
-Estimado amigo! A liberdade e a
confiança podem ser comparadas a dois artesãos que modelam cuidadosamente um
vaso no barro. No desdobrar dessa construção é necessário todo o cuidado e
técnica para que o vaso tome a devida forma desejada. Para que isso aconteça o
vaso é modelado de acordo com as necessidades de ambos os artesãos. O desdobramento
dessa arte, eu poderia chamar de liberdade, pois é fazendo o bom uso da sua
liberdade que tal objeto se constrói. E conforme os artesãos vão aprendendo a
usar a tal liberdade, tal objeto vai criando forma. Uma vez pronto e acabado
esse objeto, o vaso, ele passa então a ser chamado de confiança, pois nele você
consegue perceber tudo o que foi criado no desdobramento dessa relação. Todo
aquele processo de cuidado ao saber fazer o bom uso da liberdade, tinha apenas
como único objetivo o de criar tal objeto. Uma vez criado tal objeto, o vaso,
agora chamado de confiança, temos então o fruto dessa relação que se constitui
no decorrer de um determinado tempo.
Após ouvir isso, o Eu pergunta:
- Perfeito Eu Profundo. Muito tenho
ouvido a falar sobre tal temática, mas pouco conseguia entender. Falando assim
tão suavemente tu me fizeste compreender tal coisa de uma maneira que antes eu
não conseguia perceber. Nesse sentido, gostaria que me falasse mais sobre a
confiança, sobre esse vaso. Pois uma vez ele criado corre o risco de sofrer as
modificações da ação humana.
-Claro Eu! Entenda a confiança como
algo que nunca se cessa. Como um vaso vazio e que precisa ser preenchido.
Colocamos dentro desses vasos as mais belas flores apanhadas no jardim da vida,
assim como aqueles mais puros sentimentos que confiamos à outra pessoa. Mas de
nada adianta tal ato se não existir tal reciprocidade. Pois, o que mais temos
observado nesse mundo, são algumas pessoas ao fazer o mau uso da sua liberdade
e por possuir desejos efêmeros, se deixam levar pela falsa beleza do outro. E
como resultado de tal ação, do mau uso da sua liberdade, esse vaso que antes
estava seguro nas mãos dessas duas pessoas e preenchido com as mais belas
flores por esses dois seres, desliza de suas mãos. E nesse tal deslize ele cai
ao chão e se quebra. Tal queda às vezes provoca a ruptura em mil pedaços, como
em outras em apenas em poucas partes.
E o Eu responde:
Correto! E ao derrubar esse vaso tal
pessoa age de duas diferentes maneiras: Ou ela ignora e não da valor ao vaso
que se quebraste, deixando ele aos chãos. Ou ela vai aos prantos e diante de
suas lagrimas tenta conserta-lo.
- Perfeito! Eu Profundo, e é com tal
acontecimento que podemos sentir a sutil diferença existente entre os seres
humanos. Pois aquele que não se preocupa e segue o seu caminho é aquele que
brevemente estará construindo outro vaso com outra pessoa e certamente agirá com
ela da mesma maneira se tal fato voltar a acontecer. E aquele que tenta colar,
juntar os cacos desse vaso, fingindo como se nada tivesse acontecido é como
aquela pessoa que no auge do seu arrependimento tenta consertar algo que foi
feito com o mau uso da sua liberdade. Mas o que esse segundo ser não sabe, é
que tal vaso uma vez colado nunca mais será o mesmo, pois cada vez que alguém
olha para tal marca no vaso, relembra de tal acontecimento que o deixou assim.
Como alguém que relembra de tal coisa que lhe fizeram e nunca mais conseguiu
voltar a ser o mesmo. Portanto, amigo Eu Profundo, concluo dizendo: Que a confiança
uma vez perdida, se torna como esse vaso quebrado, o qual nunca mais terá a sua
forma e beleza como era naturalmente.
Cosmo
Rafael Gonzatto
Soledade
10 de junho de 2012
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h: 02 min
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